Eita
Saudade de tomar de banho de chuva.
Ficar
embaixo da “biqueira”, fazendo tudo, fazendo nada.
De
manhã, de madrugada, com a simplicidade do poeta.
Criança
não quer saber de câmbio, inflação ou superávit.
Criança
quer o pirulito e cabou-se. Quer jogar de bola na rua e ponto final.
Quer
e mais nada. Mais nada. Num querer acanhado, livre, sorridente,
vazio
de responsabilidades, um querer que é só um querer.
Já
falava o poeta: “Simplicidade é querer uma coisa só”.
A
criança sabe muito bem o que é isso.
Que
tempos bons aqueles onde se jogava bila até bem tarde.
“Homem-pega-mulher”,
“Carimba” e “7 pecados”.
A
hora de entrar era boa não.
“Mãiêêê,
só mais um poquinho, só mais um pouquinho” - Pedíamos quase chorando.
“Mais
um pouquinho? Você já ta dizendo isso faz meia-hora. Bora, pode entrar Seu Fulano. Pode entrar Dona
Beltrana” - Berravam nossas mães. Muitas
vezes em frente aos nossos amigos. (Acaso
os pais não sabem que isso não se faz?)
Aí
a festa se acabava. Mas no outro dia tinha mais. Sem preocupações. Aliás, o
pesadelo talvez fosse ter que estudar, ir ao colégio.
O
que é pesadelo pra nós hoje?
Éramos
felizes. Desconhecíamos essa nossa condição.
Eita
saudade. Eita saudade.
Rubem Alves.