Canecas são canecas. É
assim que dizem. Mas aquela, a minha caneca, não. Era especialíssima. Seu
amarelo ouro reluzia ao toque das minhas mãos.
A estampa suave de flores
miúdas lhe conferia a aparência de uma peça de porcelana chinesa, escolhida a
dedo.
Tinha-a comigo por décadas
e foi presente de uma amiga do ensino fundamental. Quando a tinha nas mãos,
ocasionalmente lembrava-me do dia em que a recebi. Era dia de Natal e minha
amiga fez suspense ao entregá-la a mim, pedindo que tivesse todo o cuidado ao
abrir a caixa, pois corria o risco de quebrá-la. Essa recomendação me
acompanhou vida afora e nas minhas mudanças de casa.
Tinha-a como algo
precioso, quase como um talismã e eu mesma, após o café da manhã, fosse quem
fosse o responsável por lavar a louça, fazia questão de cuidar dela e colocá-la
no armário em posição que só eu a poderia pegar.
O café da manhã tomava
ares de um café num jardim encantado e os sabores vindos dela eram sublimes,
com o ar da infância. Até hoje, quando um ato desajeitado de minha parte a
colocou no chão em pedaços.
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Adir Vieira