segunda-feira, 20 de julho de 2009
Ótimo Dia do Amigo a Todos! - por Ana
Amigos - por S. Ribeiro
Já agora minhas pernas se estendem se entendem se desgastam, eram amigos coisas que enchem as mãos, mas não sabem quantos anos que se gastaram se ampliaram,
mas enfim:
agora do fundo do lodo espúrio de fundo escuro me pergunto nesta sala de espelhos, de tantos bichos que testemunhei, quem restará.
Meu Primeiro Dia na Internet - por Adir Vieira
Clarice Lispector, “Uma Amizade Sincera” - Citada por Alba Vieira
Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seus amores. Experimentávamos ficar calados — mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos.
Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.
Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto — eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.
Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.
Mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo.
Mas como se nos revelava sintética a amizade. Como se quiséssemos espalhar em longo discurso um truísmo que uma palavra esgotaria. Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois e três são cinco.
Tentamos organizar algumas farras no apartamento, mas não só os vizinhos reclamaram como não adiantou.
Se ao menos pudéssemos prestar favores um ao outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas não precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo as longas férias.
Data dessas férias o começo da verdadeira aflição.
Ele, a quem eu nada podia dar senão minha sinceridade, ele passou a ser uma acusação de minha pobreza. Além do mais, a solidão de um ao lado do outro, ouvindo música ou lendo, era muito maior do que quando estávamos sozinhos. E, mais que maior, incômoda. Não havia paz. Indo depois cada um para seu quarto, com alívio nem nos olhávamos.
É verdade que houve uma pausa no curso das coisas, uma trégua que nos deu mais esperanças do que em realidade caberia. Foi quando meu amigo teve uma pequena questão com a Prefeitura. Não é que fosse grave, mas nós a tornamos para melhor usá-la. Porque então já tínhamos caído na facilidade de prestar favores. Andei entusiasmado pelos escritórios de conhecidos de minha família, arranjando pistolões para meu amigo. E quando começou a fase de selar papéis, corri por toda a cidade — posso dizer em consciência que não houve firma que se reconhecesse sem ser através de minha mão.
Nessa época encontrávamo-nos de noite em casa, exaustos e animados: contávamos as façanhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. Não aprofundávamos muito o que estava sucedendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da amizade. Pensei compreender porque os noivos se presenteiam, porque o marido faz questão de dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada o alimento, porque a mãe exagera nos cuidados ao filho. Foi, aliás, nesse período que, com algum sacrifício, dei um pequeno broche de ouro àquela que é hoje minha mulher. Só muito depois eu ia compreender que estar também é dar.
Encerrada a questão com a Prefeitura — seja dito de passagem, com vitória nossa — continuamos um ao lado do outro, sem encontrar aquela palavra que cederia a alma. Cederia a alma? mas afinal de contas quem queria ceder a alma? Ora essa.
Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos.
A pretexto de férias com minha família, separamo-nos. Aliás ele também ia ao Piauí. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.
Aos Meus Amigos - por Ana
É dia de dizer coisas
Que, na pressa de outras horas,
A nossa alma não ousa.
Dizer como são importantes
Aqueles que seguem ao lado
Do nosso caminho de vida,
No compasso de nossos passos.
São importantes por tudo:
Palavras, olhares, gestos,
Lembranças, sorrisos, dores,
O não dito e o manifesto.
Porque se importam conosco,
Porque os temos em nós,
Porque vivem em nossas mentes
E nunca nos deixam sós.
Amigos podem ser raros,
Íntimos, desconhecidos,
Muitos, alegres, soturnos,
Tímidos, invasivos,
Apaixonados, crianças,
Tolos, transcendentais,
Céticos, abusados,
Malucos, convencionais,
Gulosos, trabalhadores,
Complexos, irreverentes,
Estudiosos, bulímicos,
Fantasiosos, carentes,
Ciumentos, detalhistas,
Patricinhas, engraxates,
Travestis, dissimulados...
Todos do mesmo quilate
Pras nossas necessidades
De animal tão gregário,
E ultrapassam este limite:
Brilham mais que o necessário.
Iluminam nossas rotas,
Potentes e sábios faróis,
Auxiliam nas tormentas
Antes, durante e após.
Por tudo que disse e por mais,
Agradeço, hoje, aqui,
Aos amigos de minha vida
O que, com eles, vivi.
E deixo um abraço pra todos
Do Duelos, que seguem comigo
Neste oceano de letras,
Neste vaivém de amigos.
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Amigos - por Clarice A.
O mais precioso
Não precisa:
Ter o mesmo sangue
Ser da mesma idade
Ser do mesmo sexo
Ser da mesma cor
Ser da mesma classe social
É um encontro e escolha mútua
Fundamental o mútuo
Não implica em concordância sempre
Respeita e entende as diferenças
Dispensa juras e testemunhas
Simplesmente é
Alguém com quem se possa contar
Na alegria e na tristeza
Na saúde e na doença
Na riqueza e na pobreza
Nas dúvidas e certezas
Nos erros e acertos
Nas vitórias e nas derrotas
A distância não importa
Porque se necessário
A palavra há de chegar
Para alguns são numerosos
Para outros, tão poucos
Que se pode nos dedos da mão contar
São os presentes mais valiosos
Que a vida pode nos dar.
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Reencontro de Amizade - por Duanny
Foi uma quarta-feira muito nublada, tinha certeza que iria te ver. Quando entrei no trem, lembranças brotaram em minha mente, lembranças de uma amizade superficialmente verdadeira, de meninas inocentes. Sim, eu sei que você preferiria o termo “pirralhas”, mas não vamos confundir as coisas. Naquela época meus segredos eram explícitos, meus medos escancarados e minhas vontades eram patéticas, mas incrivelmente achamos alguém que nos compreender e nos dar o que mais precisamos: um ouvinte. Sim, precisamos de um ouvinte para sorrir, chorar, gritar, confessar e consolar. Você já foi minha ouvinte, talvez depois desses estúpidos longos dois anos nossa amizade não seja a mesma, mas a ouvinte continua dentro de mim, ocultada pelo tempo e assustada pela distância.
Percorri o caminho até sua casa fitando cada detalhe, como se nunca tivesse estado ali, mas, para meu desespero, cada centímetro daquela calçada trazia uma lembrança sua. E você apareceu, pude te observar pela porta, não tinha mudado muito, você sempre foi a mesma amiga de sempre, só que, é claro, sua aparência agora transbordava no que você sempre foi por dentro.
Pela primeira vez abracei alguém como se tivesse escapado da morte, te olhei nos olhos com saudade e você retribuiu meu olhar, pude ter certeza de que você era a mesma pirralha de dois anos atrás. Conversamos durante horas, como se aqueles dois anos fossem uma página arrancada de um livro, como se eles tivessem simplesmente se perdido em meio a recordações.
Andamos pela cidade como se nunca tivéssemos feito aquilo, falamos e recordamos coisas que somente me fizeram sentir mais feliz por te ver novamente.
Fui embora em meio à chuva, recebi seu abraço, apertado, como se dissesse: “obrigada por estar aqui” ou “não esqueça mais de mim assim”. Não foi preciso mais que um abraço e uma palavra para perceber que uma amizade pode, sim, resistir a certas distâncias.
No caminho de volta sofri uma ressaca de recordações que, em sua maioria, me fizeram lembrar quem sou hoje; outras só serviram para me fazer sorrir nessa noite de chuva.
Percebi que certas amizades realmente podem ser eternas. Infelizmente uma fatalidade ocorreu e só naquele momento pude ver como fui egoísta em não ter te ligado ou te visitado quando tive tempo. Percebi que, apesar de tudo, você pode ser minha ouvinte. Obrigada por ser tão especial assim, obrigada por ter gritado comigo, cometido loucuras, manchado as lembranças, ver o invisível, escutar o silêncio, fazer o impossível, me fazer sorrir, sentir saudade, obrigada por ser a pessoa com quem posso contar a qualquer momento, obrigada por ser a melhor amiga.
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