Há um terreno baldio
Muito grande, abandonado.
É lá que eu me refugio
Do inferno de lá de casa,
Dos moleques cá da rua,
Onde faço as lições da escola,
Onde durmo sob a lua.
Um dia ainda estava dormindo,
Chegaram uns caminhões.
Descarregaram cada coisa!
Xícaras, cavalos, aviões...
Nunca tinha visto aquilo!
Um mundo todo em pedaços!
Fios, engrenagens, cabos,
Muita gente e estardalhaço!
Vi tudo sendo montado
Até que tomou sentido.
Ajudei, muito animado
Com a variedade e o colorido.
Quando acabaram os trabalhos,
Observei tudo em volta.
Meu coração, feliz,
Não lembrava de choro ou revolta.
Durante toda a temporada
Fui o moleque ajudante,
Era pau pra toda obra.
Me apelidaram Grilo Falante
Por ser magro de dar dó
E falar pelos cotovelos.
Mas eu nem liguei pra isso,
Pois eu tinha carinho e zelo
Das pessoas do parquinho
Que, de pronto, me adotaram.
Se interessavam por mim,
Alimentavam e orientavam.
E na hora de ir embora,
Ajudei a desmontar
Peça a peça, alegremente,
Pensando no outro lugar
Para aonde iria o parque
Fincar sua alegria,
Remontar felicidade,
Movimentos e fantasia.
Quando, então, nos despedimos,
Em mim não ficou um vazio,
Pois eles trouxeram, sem saber
Pra minha vida um desvio.
O tempo, então, foi passando,
Eu seguindo a minha estrada
Que foi, por aquele parque,
Totalmente modificada.
Hoje, quando lembro disso,
Meus olhos enchem de emoção
Por lembrar bem do momento
Em que vi minha vocação
De ser portador dos bilhetes
Que aproximam do céu:
O moço da roda-gigante
Do Parquinho Beleléu.
Inspirado na serigrafia Roda-gigante, de Anita Bastos.
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4 comentários:
Muito bom Ana!
Ana
Adorei o menino e o parque.
Puxa, Poeta!
Muito obrigada por seu elogio!
Beijo.
Gostou mesmo, Clarice?
Obrigada, obrigada...
Beijos!
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